Meus
oito anos
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Como são belos os dias
Do despontar da existência !
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Casimiro de Abreu
Obras de Casimiro de Abreu, edição crítica de
Sousa da Silveira, Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1940.
01. O poema de Casimiro de Abreu reflete
sobre a infância, vista no texto de maneira idealizada. De acordo com o
eu-lírico:
A)
A
infância sempre parecerá aos olhos do indivíduo como pura e perfeita, porém
logo percebe-se de que tudo é idealização.
B)
Apenas
a infância vivida no campo, no meio da natureza, pode ser considerada feliz e
completa.
C)
As
saudades que sentimos da infância revelam nosso grau de contentamento com essa
fase da vida.
D) O
modo como vivemos na infância influenciará na maneira como iremos vivenciar
nossa vida adulta.
E)
O
presente revela-se triste e repleto de desilusões, contrastando com um passado
feliz, cheio de realizações.
02. A valorização da natureza é um traço
marcante do Romantismo Brasileiro. Destaque do poema versos em que a natureza
passa a refletir o estado de espírito do eu-lírico.
03. As características do Romantismo
encontradas no poema de Casimiro de Abreu são:
A)
A
abordagem de temas ligados a questões sociais e a reflexão sobre problemas
existenciais.
B)
A
opção pela visão idealizada da vida e o culto à natureza.
C)
A
preocupação social do eu-lírico e a visão idealizada do passado.
D)
A
prevalência do lirismo amoroso e a preocupação com a temática nacionalista.
E)
O
pessimismo exacerbado diante da vida e a idealização amorosa.
04. O poeta utiliza-se dessa visão
idealizada do passado como forma de escapismo, fugindo assim do momento
presente, visto de maneira pessimista. Que versos do poema revelam esse presente
pessimismo?
05. Nos versos “Oh ! que saudades que eu
tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não
trazem mais !”, o eu-lírico expressa:
A)
A
alegria com a certeza de que esse passado feliz terá consequências no presente.
B)
A
angústia diante de um passado inegavelmente idealizado.
C)
O
saudosismo sentido, confirmando que esse passado não irá refletir-se no
presente.
D)
O
sofrimento diante da oposição de um passado feliz e um futuro duvidoso.
E)
A
tristeza com a certeza de que apenas foi feliz no passado.
06. Prosopopeia, ou personificação, é uma
figura de linguagem em que são atribuídas ações ou qualidades de seres animados
a seres inanimados, ou características humanas a seres não humanos.
Considerando
a definição apresentada, os versos do poema “Meus oito anos”, de Casimiro de
Abreu, em que podem ser encontrados a referida figura de linguagem é:
A)
“As
ondas beijando a areia,
E
a lua beijando o mar!”
B)
“Eu
ia bem satisfeito,
Da
camisa aberto o peito
-
pés descalços, braços nus –
C) “Naqueles tempos ditosos
Ia
colher as pitangas,
Trapava
a tirar mangas,
Brincava à beira do mar.”
D)
“Oh!
Dias da minha infância!
Oh!
Meu céu de primavera!”
E) "O mar
– é lago sereno,
O
céu – um manto azulado,
O
mundo – um sonho dourado,
A
vida – um hino d’amor.”
O poema abaixo, de Manuel Bandeira,
pertence ao livro Lira dos Cinquentanos:
VELHA CHÁCARA
A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinqüenta anos)
Tantos que a morte levou!
(E a vida... nos desenganos...)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
— Mas o menino ainda existe.
©
MANUEL BANDEIRA
In
Lira dos cinquent’anos, 1940
07. Assinale a opção que indica o que há de
comum entre o poema de Casimiro de Abreu e o poema de Manuel Bandeira em
relação ao assunto:
A)
A
certeza de que o passado tende a ser esquecido com o passar dos anos.
B)
A
infância vivida no campo é preferível àquela vivida nos grandes centros.
C)
A
noção de que a vida nos traz desilusões.
D)
O
eu-lírico do passado já não é mais o mesmo do tempo atual.
E)
Não
apenas a morte nos tira lembranças, pois a vida, com seus desenganos, também
faz esse trabalho.
08. O poema de Manuel Bandeira manifesta que
algumas lembranças já não existem mais. Entretanto, apesar dos cinquenta anos
que se passaram, nem tudo foi apagado. Indique a passagem do texto que
corrobora com essa afirmação.
GABARITO
01. E
02. “– Respira a alma inocência
Como
perfumes a flor;
O
mar é – lago sereno,
O
céu – um manto azulado,
O
mundo – um sonho dourado,
A
vida – um hino d’amor !”
“O céu bordado
d’estrelas,
A terra de
aromas cheia,
As ondas
beijando a areia
E a lua
beijando o mar !”
03. B
04. “Em vez de mágoas de agora,
Eu
tinha nessas delícias
De
minha mãe as carícias
E
beijos de minha irmã !”
05. C
06. A
07. C
08. “Da velha chácara triste:
Não
existe mais a casa...
—
Mas o menino ainda existe.”
Isso é muito ruim não achei o que queria
ResponderExcluirEu não estou conseguindo procurando encontrar...
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